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Todo mundo agora é narcisista? A verdade por trás dos rótulos

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Todo mundo agora é narcisista? uma reflexão profunda sobre julgamentos, rótulos e o que está por trás das relações tóxicas

Você já reparou como virou moda chamar alguém de narcisista?
Aquela amiga que te ignorou? Narcisista.
O ex que te traiu? Narcisista.
A chefe que se acha superior? Narcisista também. Todo mundo agora é narcisista? 

De uns anos pra cá, a palavra narcisista deixou de ser um termo técnico da psicologia e virou um rótulo popular, quase uma ofensa disfarçada de diagnóstico. Mas será que a gente realmente entende o que essa palavra significa? Ou será que estamos usando ela como escudo pra não encarar outras verdades desconfortáveis?

Vamos falar sobre isso com calma, sem julgamento, mas com bastante profundidade

Antes de tudo: o que é narcisismo de verdade?

Na psicologia, o narcisismo é um traço que existe em todos nós.
Sim, todos nós.
A gente nasce com uma dose saudável de narcisismo — é o que nos faz cuidar de nós mesmos, buscar ser amados, sentir orgulho de nossas conquistas e querer reconhecimento. Isso é natural, faz parte da nossa construção como seres humanos.

O problema é quando esse traço sai do controle. Aí entramos no que a psicologia chama de Transtorno de Personalidade Narcisista. E isso é outra história.

Pessoas “narcisistas” costumam:

Ter uma autoestima inflada, que na verdade esconde um vazio interno;

Precisar constantemente de atenção e admiração;

Agir com arrogância ou superioridade;

Ter dificuldade de reconhecer os sentimentos dos outros;

Se sentirem ameaçadas por críticas, mesmo as mais leves;

Usar os outros para atingir seus próprios fins;

Ter relacionamentos superficiais e disfuncionais. E mesmo com tudo isso, o diagnóstico não é simples. Ele exige tempo, escuta clínica, investigação. Não é uma conclusão que se tira vendo o comportamento de alguém por uma semana — e muito menos por um vídeo no Instagram.

Quando apontar o outro vira um alívio

Por que é tão fácil e rápido chamar o outro de narcisista?
Porque isso nos protege.
Porque rotular o outro é mais confortável do que encarar a dor que a relação causou.

Se eu digo que “o problema é ele, porque ele é narcisista”, eu me afasto da minha parte na história. Não preciso rever meus padrões, nem me perguntar por que fiquei tanto tempo numa relação que me machucava. Não preciso olhar para minhas feridas de abandono, minha carência, minha dificuldade de impor limites.
É como se, ao nomear o outro, eu silenciasse tudo aquilo que dói em mim.

Mas isso é perigoso. Porque enquanto eu aponto, eu não curo. Enquanto eu rotulo, eu não me escuto. E a ferida continua lá, aberta.

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Nem tudo é narcisismo: às vezes é falta de caráter mesmo

Outro ponto delicado, mas necessário: existem pessoas que fazem mal aos outros sem necessariamente terem um transtorno psicológico.
Tem gente que mente, manipula, trai, é cruel… e faz tudo isso porque escolheu agir assim. Porque quer, porque convém, porque aprendeu que é mais fácil passar por cima do outro do que ser honesto.

E isso não é doença.
É falta de caráter.
É egoísmo puro, ética, empatia, e maturidade emocional.

Colocar o rótulo de “narcisista” em alguém que foi simplesmente cruel pode, inclusive, aliviar a culpa dessa pessoa: “ah, coitado, ele não sabe o que faz, é doente.”
Mas não. Em muitos casos, a pessoa sabe exatamente o que está fazendo. E isso é ainda mais assustador, né?

O perigo de diagnosticar o narcisismo sem conhecimento

Imagine que você está com uma dor de cabeça forte e resolve pesquisar no Google. Em menos de cinco minutos, você encontra várias possibilidades: tumor, aneurisma, pressão alta… e pronto: entra em pânico.

É mais ou menos isso que acontece quando usamos termos clínicos da psicologia sem entender de fato o que eles significam.

Chamar alguém de narcisista sem base, sem conhecimento, sem critério, é como fazer um diagnóstico médico com base em meia dúzia de sintomas que você viu na internet. Pode gerar medo, distorção da realidade e, muitas vezes, injustiça.

Além disso, pode fazer com que você se relacione com as pessoas a partir da desconfiança e do medo constante.
Tudo vira sinal de alerta. Tudo parece “tóxico”. Você começa a se proteger tanto que se fecha para vínculos verdadeiros.

Mas então eu não posso nomear todo mundo agora como narcisista/o que me machuca?

Pode, sim.
Você pode (e deve) dar nome às suas dores. Você pode dizer:
“Eu me senti manipulada.”
“Fui usada.”
“Me senti diminuído, controlado, invalidado.”

Isso é diferente de dizer: “Você é um narcisista.”
Quando você descreve como se sentiu, você se responsabiliza pela sua experiência.


Quando você rotula o outro, você foge de si e entra num terreno perigoso — o da acusação.

Se a relação te faz mal, você não precisa de um rótulo pra se afastar.
Não precisa de um diagnóstico para colocar limites.
Você pode simplesmente dizer: “Isso não me serve. Isso não é saudável pra mim.”

O que fazer quando você se sente preso(a) numa relação assim?

Aqui vão algumas perguntas que podem te ajudar a se situar:

Eu me sinto livre pra ser quem sou nessa relação?

Consigo expressar minhas opiniões sem medo?

Sinto que meus sentimentos são validados ou sempre diminuídos?

Tenho espaço pra crescer ou me sinto sempre em dívida emocional?

Se a maioria das respostas for negativa, talvez essa relação esteja te adoecendo.
E você não precisa esperar que um psicólogo diga “essa pessoa é narcisista” pra tomar uma atitude. O seu sofrimento já é sinal suficiente.

Procure apoio, cuide da sua saúde emocional, e se necessário, busque ajuda profissional. Não é fraqueza. É coragem.

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Conclusão: mais responsabilidade, menos rótulo

A tendência de rotular os outros pode até parecer inofensiva, mas ela pode nos afastar da verdadeira cura — que é olhar pra dentro.
Rótulos nos impedem de ver o ser humano como um todo. Nos fazem esquecer que todos nós temos luz e sombra, partes belas e partes assustadoras.
E que a verdadeira transformação começa quando a gente para de apontar e começa a se observar.

O outro pode até ser cruel, narcisista ou apenas egoísta.
Mas você não precisa se perder tentando entender ou rotular.
Você precisa se reencontrar — com sua paz, sua verdade, sua dignidade.

No fim das contas, o mais importante não é o que o outro é.
É o que você faz com aquilo que ele desperta em você.

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